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Conheça a história do produtor uruguaio que mudou a música brasileira

Augusto Cabrera trouxe doses latinas para a música brasileira (Foto/Divulgação)

Um tempero uruguaio tem dado o ritmo à música brasileira. São pelas receita do compositor e produtor musical Augusto Cabrera, nascido em Montevidéu (URU), que passaram alguns dos principais sucessos lançados no mercado nacional nos últimos anos. Dos seis anos se dedicando unicamente à produção musical no Brasil, quase dois deles foram com produções suas em primeiro lugar entre as mais tocadas no país.

Com a experiência dos mais de 30 anos envolvidos na música – como cantor, compositor e produtor -, recentemente Cabrera também passou a empresariar nomes em ascensão na música, levando para a carreira do artista toda a sua bagagem nos bastidores e sob os holofotes de palcos mundiais.

A diversidade de ritmos tocados no Brasil encaixou perfeitamente a bagagem musical do uruguaio. De descendência alemã por parte de mãe e espanhola por paterna, Cabrera já traz nas veias a musicalidade. Herdou da mãe o gosto pela música clássica e a dedicação pelos estudos de instrumentos como piano, violino e violão. Já o suingue vem do gosto pelos ritmos latinos como bachata, cumbia e ainda a paixão do tango, legado paterno.

É “sucesso” que fala, né?

são mais de 69 semanas com alguma de suas produções no topo das paradas brasileiras. Se analisar o top das músicas mais tocadas, essa conta chega a quase dois anos. Em 2017 chegou a ter canções ocupando os três primeiros lugares do ranking no Rio de Janeiro, uma das praças musicais mais fechadas do mercado brasileiro. Naquele mesmo ano, com a música “Loka”, interpretada pela dupla Simone e Simaria e participação de Anitta, o produtor uruguaio conquistou o feito de ter a música mais ouvida do ano nas rádios nacionais, ultrapassando o megahit mundial “Despacito”.

As mais de 60 produções exclusivas já lhe renderam mais de 1 bilhão de visualizações no canal de vídeos. Entre umas das mais recentes estão “Eu Vou te Buscar”, feat. de Gusttavo Lima com o rapper Hungria  – que é um dos cinco clipes principais da carreira do astro sertanejo com mais de 110 milhões de acessos – e “Sapequinha”, que se aproxima dos 100 milhões de views, sendo o mais visto da trajetória do sertanejo Eduardo Costa.

Vim de um país pequeno. Sabia que para conquistar tudo o que eu sonhava, precisava crescer profissionalmente fora do Uruguai. Encontrei no Brasil a diversidade musical que precisava para isso, conta o uruguaio.

Todas elas têm em comum não só a assinatura de Cabrera na produção – algumas também na composição – mas também um “quê” a mais de seus arranjos, sempre ousados e utilizando ao máximo as misturas musicais. Cabrera tem sido conhecido por transformar músicas em hits.

Cartada Certeira

Não é fórmula, mas sim a essência do sucesso. Sua assinatura musical é justamente descobrir com o artista tudo o que envolve determinada obra. Nenhuma música sai como a outra. O que o produtor uruguaio busca é dar a cada música a identidade dela.

“Tudo conta para produzir uma música. O visual, o momento do artista, qual o objetivo dela na carreira dele. Não podemos tratar uma música isolada, mas o que ela vai acrescentar ao projeto dele e com isso como achar o diferencial”, define.

Produtor versátil, consegue passear por diversos gêneros musicais. Hoje conhecido principalmente por ter ficado mais de um ano em primeiro lugar com hits sertanejos, já trabalhou com rock, pop, além de música clássica, tango e claro suas familiares bachata e cumbia, entre outros ritmos.

A ousadia e autenticidade musical do latino tem atraído artistas que buscam canções que saem do óbvio e que tocam o público. Característica que tem cada vez mais também atraído artistas de outras nacionalidades.

A história com o Brasil

A história de Cabrera com o Brasil aconteceu no começo dos anos 2000. Depois de uma visita ao país com sua banda de adolescência, apaixonou-se e resolveu estruturar sua família no país. Engenheiro eletrônico, o uruguaio se dedicou alguns anos à sua fábrica, enquanto realizava pequenas produções à distância para artistas conterrâneos.

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Grammy Latino de Zezé & Luciano tem DNA de Cabrera (Foto/Divulgação)

Foi em 2010, numa das visitas ao estúdio Mosh – um dos principais no Brasil -, que encontrou Zezé Di Camargo, da dupla com Luciano, um dos grandes nomes da música brasileira popular. À época, recém-chegado do Uruguai e conhecendo nada de sertanejo, não percebeu que estava diante de uma grande oportunidade no mercado musical brasileiro. Zezé estava montando o repertório do álbum “Double Face” e se interessou por uma faixa em espanhol composta e produzida por Cabrera. Sem saber foi ali que marcou sua estreia na música brasileira. “Eres Todos Los Extremos” foi a primeira música do produtor gravada por um cantor brasileiro e integrou o álbum ganhador de um Grammy Latino.

A partir dali começou a conhecer outros cantores nacionais e, cerca de três anos depois, já se tornou mais conhecido entre os artistas e procurado por eles. Discreto e fugindo dos rótulos e marketings característicos do showbusiness, Cabrera faz sua fama por meio de boca a boca.

O legado

A história de Cabrera na música se funde a momentos importantes da música brasileira e são um reflexo das tendências mundiais. É fácil identificar os movimentos musicais do cenário brasileiro a partir de hits produzidos pelo uruguaio. Foi pelas mãos de Cabrera que o sertanejo e o axé ganharam essência latina e o reggaeton se uniu ao funk, foi com o uruguaio que o brasileiro passou a ouvir bachata nas rádios por meio de suas produções dentro do sertanejo.

Muito acontece porque, segundo Cabrera, ele consegue enxergar a música brasileira de fora. “O brasileiro não tem noção da riqueza cultural que ele tem”, destaca o produtor musical.

“Eu enxerguei no Brasil um grande jogo de Lego, em que cada peça é um estilo musical e vou encaixando essas peças”, explica.

Há quase duas décadas no Brasil, foi no país tropical que o produtor conseguiu reunir as misturas principais para levar seu talento para além da fronteira latina. É brincando com todos os sons produzidos por aqui que ele enxerga diversas outras possibilidades com gêneros espalhados nos outros cantos do mundo, trazendo com isso muito de sua bagagem latina. “A música é universal, só é preciso encaixa-la na outra e encontrar a melhor sonoridade nessa mistura”, teoriza.

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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