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Especial: 10 álbuns influentes lançados em 1998 (Parte I)

Em 1998, a internet ainda estava distante da realidade de muita gente. Por isso, o que tocava na TV e nas rádios acabava tendo ainda mais alcance e exercendo ainda mais influência sobre as pessoas. Consequentemente, a cena musical era mais diversificada: o pop de boy-girlbands dividia espaço com uma renovação do rock e R&B, e novas cenas foram surgindo, como o nu metal e o stoner. O grunge deu lugar para um som mais etéreo, intimista, baseado em sintetizadores e melodias densas.

Para celebrar essa fase, voltamos no tempo para resgatar o que houve de melhor na discografia de 1998. A partir disso, elegemos 30 álbuns que marcaram o mainstream de 20 anos atrás e influenciaram o que viria a seguir. Ao mesmo tempo em que 1998 parece ter sido ontem, notar a variedade musical de hits da época comparando com agora dá a sensação de que tudo mudou muito. E mudou mesmo, radicalmente.

Confira a primeira parte deste especial:

1. Pearl Jam – Yield

Em 1998, o grunge já não existia mais. As bandas taxadas como tal já começavam a perder lugar nas paradas de rock’n’roll. A indústria fonográfica começava a apostar em gêneros mais novos e interessantes para os jovens do fim do milênio, como o metal  alternativodo Korn, o pós-punk do Offspring e Green Day ou até o pop-rock-meloso de bandas como o Counting Crows (lembra?). Com isso, as bandas que saíram do cenário de Seattle precisavam mostrar que se reinventaram para continuarem a tocar nos discmans dos jovens da época. E a banda mais bem sucedida nesta difícil missão foi, sem dúvidas, o Pearl Jam. Buscando influências no garage rock dos anos 70, a banda criou um disco inovador para a própria sonoridade da banda, e interessante em sua totalidade. Mas os méritos ficam com a ótima escolha das músicas de trabalho. Do The Evolution ganhou um vídeo marcante, até hoje lembrado como um divisor de águas na história dos videoclipes.

2. Placebo – Without You I’m Nothing

Assim como muitas bandas contemporâneas, o Placebo embarcou em uma sonoridade mais etérea, mergulhada em sintetizadores. Porém, ao contrário de outros trabalhos daquele contexto, o Without You I’m Nothing não apela apenas para um lado meramente sombrio ou reflexivo – há um pessimismo e uma angústia transparantes a cada composição, até mesmo nos hits, como Pure Morning e Every Me, Every You.

Mas a grande “lenda” do disco ficou a cargo da faixa Without You I’m Nothing, que tinha um fã notório: ninguém menos que David Bowie. Ele era tão fã que chegou a pedir para participar de uma versão da música. A parceria surpreendente virou um single, que foi comercializado logo após o álbum e ganhou versão remasterizada após a morte do cantor, como forma de homenagem.

3. Hole – Celebrity Skin

Após passar a fase de luto pela morte de Kurt Cobain – que levou junto boa parte das glórias do movimento grunge – Courtney Love queria mostrar que seguiu em frente. Uniu-se a parceiros musicais de longa data (como Billy Corgan),  trancafiou-se no estúdio com sua banda e, quatro anos após a tragédia, resolveu dar a cara a tapa novamente: o resultado foi o Celebrity Skin, um disco que retrata a vida de luxo, glamour e decadência da Califórnia. O álbum transita entre o peso dos riffs de Eric Erlandson e letras amargas a uma pegada pop e divertida, como em Awful. Bem mais acessível comercialmente que seus antecessores, o álbum ganhou o público com as mega pops Malibu e Celebrity Skin.

4. Smashing Pumpinks – Adore

Com Adore, os Smashing Pumpinks embarcaram de vez na onda sombria – o que já era um caminho perceptível em seu anterior, o bem-sucedido Mellon Collie and the Infinite Sadness. O que surpreendeu aqui foi o excesso  de sintetizadores e outras texturas sonoras, herdadas do também sombrio post rock dos anos 1970. O caminho parecia arriscado, mas o disco, com as produções de Brad Wood e Flood, é um resultado belo de uma fase difícil, com conflitos entre os membros e o luto de Billy Corgan, que enfrentava um divórcio e a perda da sua mãe – aspectos que influenciaram notadamente na composição do Adore.

5. Garbage – Garbage 2.0

Depois do sucesso do álbum de estreia, o Garbage assumiu a missão de dar um update em seu próprio som. Mergulhando em sintetizadores e guitarras cheias de efeitos, a banda realmente deu uma versão “2.0” de si mesma, muito inspirada na temática tecnológica que permeava aquele final do milênio, quando muitas bandas usavam de elementos eletrônicos para encorpar a sua produção musical. Os questionamentos típicos deste momento em específico (que marcou o fim dos anos 90) também se refletem nas letras de Shirley Manson: desde o desabafo-irônico de uma mulher que pensa estar dominada pela loucura (ou seria o mundo machista que pensa isso dela?) em I Think I’m Paranoid até a super crítica Medication, o disco apresenta uma consistência interessante entre melodia e letra. Destaques para os singles Special e Push It.

6. Angra – Fireworks

Fireworks é um dos álbuns mais queridos pelos fãs de Angra – muito pelo valor afetivo que seria dado a ele futuramente, já que foi o último álbum gravado com todos os membros originais. Mas, claro, sua importância na discografia do Angra vai além: os brasileiros foram até os famosos estúdios Abbey Road gravar com uma orquestra completa, em um álbum com sonoridade orgânica e, ao mesmo tempo, magistral. Muitos consideram este como o grande auge do Angra, em um momento em que a carreira internacional da banda estava a todo vapor. Destaque para as vituosíssimas Metal Icarus e Lisbon.

7. Neutral Milk Hotel – In the Aeroplane over the Sea

Considerada uma verdadeira bíblia para toda a geração indie folk que viria nos anos seguintes, um dos álbuns mais influentes desta lista é, sem dúvidas, o In the Aeroplane over the Sea. A melancolia por trás das músicas vem da temática do álbum, que tem como plano de fundo a história de Anne Frank, que vivia suas primeiras experiências da vida adulta em meio ao Holocausto na Holanda. A sonoridade, com inspirações que vão de Daniel Johnston a Johnny Cash, pegou de jeito uma geração que buscava uma nova cena de identificação, depois da queda do grunge e do britpop. O poder deste álbum foi tão grande que a crítica, representada pela Rolling Stone e pelo NME, já reconheciam o aspecto clássico do álbum logo em seu lançamento. Arcade Fire, Beirut e Father John Misty são alguns nomes que podem agradecer a Jeff Magnum e companhia pelo In the Aeroplane over the Sea.

8. Pato Fu – Televisão de Cachorro

Àquela altura, com três discos lançados, havia dois caminhos possíveis para o Pato Fu: embarcar de vez no clima nonsense/experimental à lá “Capetão” ou mergulhar numa veia mais pop, muito guiada pelas baladas que eles vinham construindo. Escolheram a segunda opção: Televisão de Cachorro foi a fundo da música pop, levando a sério a missão de criar um projeto que fosse amplamente acessível, sem perder o rumo da criatividade. Os singles, como a belíssima Canção pra Você Viver Mais e a regravação pop de Eu Sei, da Legião Urbana, tocaram à exaustão e provam, até hoje, a influência temporal deste disco.

9.  Queens Of The Stone Age – Queens Of The Stone Age

Em meio a bandas que buscavam explorar novas possibilidades para além da guitarra, eis que uns californianos resolvem nadar contra tudo o que parecia já proposto no mainstream: o grande responsável por isso foi o ex-guitarrista da Kyus, um tal de Josh Homme. Em 1997, ele decidiu sair da banda pra tocar o seu próprio projeto – batizado de Queens Of The Stone Age – e perguntou se os ex-colegas de banda topariam. Daí para o sucesso, eles nem precisaram esperar muito.

O álbum de estreia, lançado em setembro de 98, já mostrava para o quê a banda veio: as guitarras seriam exaltadas, em uma distorção crua, bruta e seca, retomando grandes nomes do rock progressivo como o Black Sabbath e o Led Zeppelin – mas com um groove ainda mais irresistível. A crítica amou: a Rolling Stone afirmou que Homme e Hernández atingiram uma nova guinada do “hard rock feito no noroeste norte-americano”, tornando-o um produto que tinha teor artístico com apelo pop. A gravadora Roadrunner percebeu que uma coisa nova estava pra acontecer, e criou uma coletânea com o som daquelas novas bandas do sul da Califórnia. Mais tarde, chamaram essa sonoridade de stoner rock. O Queens Of The Stone Age, com sua entrada fácil no mainstream, ajudou a reciclar a roupagem do rock mais uma vez, mantendo as guitarras e o baixo potente como protagonistas. Impossível não se empolgar ao ouvir este álbum de estreia, com a gravação suja e com ares de malfeita, se comparada com a super produção que a banda tem hoje.

10. System Of A Down – System of a Down

Assim como o álbum de estreia do QOTSA, o primeiro disco do System Of A Down também marcaria uma mudança de paradigmas do mainstream daquela época. A crítica reagiu com empolgação diante da “estranheza” da música do System: soava como metal, mas era diferente de tudo o que as pessoas estavam ouvindo naquele momento. O jeito de cantar de Serje Tankian era afiado e rápido, mas eles não tinham nenhuma influência do hip hop, como aconteceram com bandas contemporâneas – que mais tarde seriam taxadas como “new metal”. As guitarras eram potentes, mas se focavam menos em riffs virtuosos e mais nos acordes pesados e bem elaborados de Daron Malakian. No meio disso tudo, também era perceptível a leveza de instrumentos como cítara e a fusão de jazz com heavy metal, além da tradicional música da Armênia – de onde os integrantes são descendentes.

Mas a “estranheza” ficava a cargo de quem estava acostumado com os produtos fonográficos vindos dos EUA e de parte da Europa. O System, na verdade, apresentou ao mundo a estética do metal da Armênia, que já tinha uma cena consolidada, mas nunca recebeu a atenção merecida. E os integrantes carregavam o país de origem não apenas na sonoridade, mas como ideologia: músicas como Know e o clipe de Sugar marcam bem a mensagem política a favor da liberdade daquele país e contra o imperialismo norte-americano.

Logo, a banda ganhou uma base de fãs consolidada. E, além disso, abriam os olhos do mundo para um país que, apesar de ter estreitas relações com a Europa, sempre sofreu com o apagamento de sua cultura por parte das grandes potências. A veia política do System acabou sendo tão popular quanto a sua própria sonoridade. Logo, outras bandas seguiriam os mesmos passos.

Embarque direto para 1998 com a nossa playlist dos 30 álbuns mais influentes daquele ano! 😉

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