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#review: novo disco do Rival Sons é candidato a melhor do rock em 2019

Quarteto inova em novo disco (Foto/Divulgação)

A banda californiana Rival Sons completa, em 2019, seus 10 anos de estrada. Geralmente, esta “data tão querida” é comemorada com o lançamento de algum projeto revisionista, como, por exemplo, álbuns acústicos, ao vivo ou até mesmo coletâneas (com uma ou duas inéditas). No caso do quarteto formado por Jay Buchanan (voz/gaita), Scott Holiday (guitar/vocal), Mike Miley (bateria) e Dave Beste (baixo/vocal), a festa é celebrada com “Feral Roots”, um álbum formado por 11 canções inéditas.

Álbum reúne 11 canções arrebatadoras (Foto/Divulgação)

A exemplo de seus seus trabalhos anteriores, o quarteto continua mantendo seu hard rock arrasa quarteirão da década de 70. A grande evolução, no entanto, se deu no andamento da ideia de buscar outras referências além- Zeppelin. Assim como em seu disco anterior, “Hollow Bones” (2016), Jay Buchanan e companhia seguiram vasculhando as estantes de discos dos familiares e “deram de ouvidos” com o som de Grand Funk Railroad, Faces, Bad Company, Uriah Heep, UFO, entre outras. Diante da descoberta arqueológica, os músicos descobriram como azeitar ainda mais a máquina e colocaram na ponta dos dedos o segredo para não soarem datados.

“Feral Roots” mostra a banda fora de sua zona de conforto (Foto/Divulgação)

Para temperar ainda mais o caldeirão descrito acima, boa parte do álbum foi escrita em uma barraca no meio do mato, em algum lugar no estado do Tennessee. A infância campestre de Jay Buchanan justificou essa volta à floresta, explicou o título do álbum [“Raízes Ferozes”, em tradução livre] e esclareceu os motivos pelos quais o Rival Sons parece um parente distante das lendárias bandas de Southern Rock. Porém, por incrível que pareça, o single escolhido para apresentar o trabalho ao público não surpreende tanto. Por mais que tenha um riff interessante, “Do Your Worst” parece ter sido feita com a intenção de disputar, sobretudo com os hits do Foo Fighters, a melhor posição nas playlists de rock espalhadas pelas plataformas de streaming.

Graças ao pesado e irresistível groove de “Sugar On The Bone”, o ouvinte é surpreendido pela sensação de que o álbum vai mudar de rumo. Na sequência, “Back In The Woods” mostra o vigor que tanto faz falta no rock contemporâneo. Além de ser o perfeito cartão de visitas do batera Mike Miley, a faixa é circundada por um backing vocal feminino e incorpora uma atmosfera soul que faz do refrão um dos mais memoráveis da carreira da banda.

Rival Sons celebra 10 anos de estrada da melhor forma possível (Foto/Divulgação)

Outro ponto notável do álbum é notável o experimentalismo presente nas faixas “Look Away” e “Stood By Me”. A primeira começa com uma pegada acústica, mas passa por incríveis metamorfoses ao longo de seus 5’20” de duração. Por sua vez, a segunda é a prova de que o talento e a qualidade individual dos músicos são fundamentos capazes de fazer com que uma banda consiga realmente “pensar fora da caixa”. Estamos falando, senhoras e senhores, de um momento em que o Rival Sons troca o blues e hard rock por funk e soul.

O clima mais soturno do disco é gradativamente recuperado nas faixas seguintes, sobretudo em “End Of Forever”, e volta a vestir a armadura soul/gospel na canção “Shooting Stars”, uma espécie de “hino” adequado perfeita para encerrar um álbum tão singular. Detalhe: a interpretação de Jay Buchanan emociona até os mais gélido dos corações.

Por fim, mas não menos importante: “Feral Roots” é um disco que coloca o Rival Sons na prateleira de cima do rock contemporâneo. Por mais que os trabalhos anteriores sejam interessantes, a banda sempre deixou a sensação de que não estava totalmente livre das influências e, por isso, era mais alvo de comparações do que de elogios. Felizmente, o jogo virou, e ao longo das 11 canções registradas, o quarteto mostra que as “raízes mais ferozes” são as que possibilitam reinvenções e redescobertas.

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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